Mondo Pop

Para começo de conversa, vamos deixar bem claro uma coisa: considero Djavan um artista de grande talento, com uma contribuição das mais elogiáveis ao universo da MPB, em seus mais de 30 anos de carreira. No entanto, o cantor, compositor e músico alagoano tem uma característica não muito abonadora: a auto-indulgência.

Ou seja, é daquele tipo de criador que adora o próprio umbigo, e que habitualmente se cerca de bajuladores incapazes de dizer um “o rei está nu”. Graças a isso, alguns de seus discos se pautam pela absoluta irrelevância, nada além de “mais do mesmo”. Às vezes, dá certo, mas frequentemente, não. Matizes, novo lançamento do astro, por seu próprio selo, o Luanda Records, encaixa-se feito luva na segunda opção. Para começo de conversa, é produzido e arranjado pelo próprio artista, o que dá um tom monótono a todas as canções. Os músicos também são os de sempre, incluindo Max Vianna, seu talentoso filho. O repertório está assinado por ele na íntegra, sem direito a parcerias ou outros autores. O resultado é aquele sonzinho molenga, um rhythm and blues sem muito pique e que dá a impressão de que estamos sempre ouvindo a mesma música. Canções como Joaninha, Azedo e Amargo e Delírio dos Mortais soam como outtakes de discos melhores.

O fundo do poço, no entanto, é alcançado pela faixa Imposto, na qual, em mais um exercício funk frouxo, o artista tenta um protesto contra a carga tributária que inferniza o país. E o faz de forma tão canhestra e primária que chega a constranger, com versos do tipo “pois o homem que recolhe o imposto é o impostor, o voto no Congresso tem que ser aberto, o povo tem que saber quem tá votando o quê!” O título de uma das canções resume bem o que ocorreu com Matizes: Desandou. Completamente. Djavan, baseado neste disco, soa como deja vu, e tem sabor de já era.

Site do artista:
www.djavan.com.br